Por vezes, quem não está deste lado dos blogs das comidas e cozinhas, tem tendência para encarar os outros, os que os fazem, como alguém com um estatuto mais ou menos professoral, como alguém que faz aquilo porque quer ou acha que pode ensinar.
Nada mais erróneo, no entanto. Apesar de poder aproveitar a alguém uma ou outra das nossas comidas que nos blogs vamos deixando publicadas, somos nós os que mais aprendemos, quer nas pesquisas, quer nas experiências (de que só se vêem depois as bem sucedidas), quer nos livros, quer nas trocas de informação com outros bloggers, quer ainda, e talvez mais importante que tudo o resto, com os preciosos comentários aqui e conversas particulares via e-mail, com os leitores.
Foi assim com estes simples bifes de atum: em troca de um simples postonde vos disse como os fazia, recebi informação preciosa sobre um mundo que eu nem suspeitava existir à volta deste precioso peixe. “castrantonio”, um seguidor do Outras Comidas de que só conheço o pseudónimo, não só me falou de partes insuspeitadas e da delícia que eram, como me deu a preciosa pista para encontrá-las.
Nomes estranhos como mormos, contra-mormos, faceira, espinheta, tarantelo, muxama, sangacho ou estupeta, foram os motores que me fizeram coordenar umas pequenas férias pelo Guadiana com a procura de um tal Dâmaso*, que em Vila Real de Santo António (onde mais podia ser?) nos abre as portas a essas maravilhas.
Afinal as coisas não foram assim tão simples: mormos, faceiras e outras raridades são disputadas por particulares e restaurantes da “meca” do atum algarvio e tive de me contentar com barriga em salmoura, muxama, estupeta e a novidade, a espinheta, esta em estreia absoluta.
A espinheta, também chamada espinheira, é, como o nome indica, a espinha do atum e as espinhas ligadas às barbatanas dorsais, tiradas com grande quantidade de carne quando os grandes atuns são desmanchados. Essa carne é deliciosa como toda a carne agarrada a ossos, faz-se em caldeirada, com massa ou simplesmente cozida, que foi como comi e adorei.
Ingredientes:
Espinheta de atum
Batatas
Legumes a gosto
Preparação:
Ponha a espinheta, partida em troços, por uma hora ou duas dentro de água fria, de modo a que perca algum excesso de sangue que contenha.
Salgue e coza em água onde cozeu batatas e legumes, durante dois ou três minutos.
Sirva temperada com azeite e vinagre.
Nota: * A casa Conservas Dâmaso, na zona industrial de Vila Real de Santo António é talvez o único lugar onde poderá obter estas delícias, sendo que mormos, contra-mormos, faceira, espinheta e tarantelo, são produtos frescos e, como tal, deverá providenciar transporte refrigerado.
Para quase todos é conveniente fazer a reserva prévia, por telefone, de modo a evitar o que sucedeu comigo, pois tudo estava já esgotado às 10h da manhã.
O telefone é, 281513840 e o atendimento simpático e competente na indicação dos produtos e dos melhores métodos de confecção.