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Tajine de Borrego e Ervilhas

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                  Todas as culturas desenvolveram utensílios tapados para cozinhar, desde o vulgar tacho ou panela de todos os dias até outros, mais elaborados na forma ou material de que são feitos e que se especializaram neste ou naquele prato, como as cataplanas, as panelas de ferro com pés, as púcaras, as francesas daubières, até os wok’s orientais que hoje se usam quase sempre destapados mas são na verdade com tampa e, claro, essas inimitáveis peças magrebinas que se designam vulgarmente por tajines, o mesmo nome dos pratos que nelas se cozinham e que encantam quem visita Marrocos.
Uso há anos uma tajine oriunda do Sahara, que vos mostrei aqui e que, sendo excelente, é no entanto grande demais para fazer refeição apenas para dois e por isso comprei agora  duas novas tajines individuais, feitas em Portugal, infelizmente não vos sei dizer onde pois não têm qualquer identificação de fabricante. Estas tajines têm a dimensão exacta para fazer um lauto almoço para uma pessoa ou, como foi este o caso, um jantar mais leve para dois.


Ingredientes:

Carne de borrego
Azeite
Cebola
Cenoura
Alhos
Gengibre fresco
Cúrcuma fresca (ou açafrão das índias em pó)
Tomate
Sal e pimenta
Batata cozida
Ervilhas frescas
Azeitonas

Preparação:

Tempere a carne com alho, sal, pimenta  , se quiser, especiarias a seu gosto. Rodeie de cebola cortada em gomos grossos,
depois troços de cenoura, lâminas de gengibre e cúrcuma ralada ou açafrão das Índias em pó, que é o mesmo,
junte por fim tomate, alhos em fatias, salpique de sal e pimenta, passe um fio de azeite, alguma água que não chegue a cobrir e leve tapado ao forno quente ou ao lume fraco* por cerca de uma hora.
Quando os primeiros vegetais estão assados, leva então as ervilhas frescas, umas tiras de batata cozida e azeitonas
e vai durante cerca de dez minutos, de novo, ao forno (ou ao lume*).
Nota: *As tajines marroquinas são sempre feitas ao lume, geralmente de carvão. Se desta vez usei o forno, foi porque não fazia ideia da resistência ao fogo destas novas peças que, apesar de serem aparentemente de grés, são tão diferentes do barro vermelho das marroquinas e não quis arriscar que estalasse mal chegasse ao lume pela primeira vez. Tudo correu bem e penso que da próxima já a farei ao lume directo.

Cabeça de Borrego Assada

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             É um dos meus petiscos preferidos, embora conceda que seja realmente dos pratos mais feios e até repelentes à vista que se possa imaginar.
Aprendi a gostar de cabeça de borrego em Marrocos, onde desempenha um papel maior na sua gastronomia e até é figura central na grande festa muçulmana do sacrifício, a Aïd al-Kabîr.
Lá, no entanto, quer a cabeça, quer o próprio borrego, são confeccionados com a pele, como fazemos em Portugal com o leitão assado ou com o cabrito estonado à moda de Oleiros e isso levanta um real problema, cá, onde é proibida a venda destes animais com a pele, nos talhos.
Cingido portanto ao facto de só dispor de uma cabeça de borrego esfolada, decidi  avançar, não com a cozedura a vapor
ou assado “embrulhado” à marroquina,
mas com a portuguesíssima cabeça assada a que Maria de Lurdes Modesto chama “petisco de homens” e que situa como tradicional do Alentejo, apesar de ser comida por todo o país.

Ingredientes:

Cabeça de borrego ou carneiro
Alhos
Sal e pimenta preta, abundante
Vinagre
Banha

Preparação:

Tente adquirir uma cabeça muito fresca e no próprio dia da confecção, já que os miolos se degradam muito depressa e é muito desagradável encontrar depois a mioleira meio desfeita.
Lave a cabeça, retire algum vestígio de pelo que por vezes aparece agarrado junto à boca ou à volta dos olhos. Tradicionalmente, a cabeça é assada com os olhos, que muitos consideram iguaria mas que me impressionam e por isso retirei-os. Retire também as “ranheiras”, o que se faz cortando os orifícios nasais e abrindo o focinho por cima, expondo assim os seios nasais, local onde costuma existir muco.
Lave copiosamente.
Para esta cabeça preferi fazer uma pasta como a que se faz para barrar o leitão, misturando no almofariz alhos, sal, pimenta preta
e banha
e barrando a cabeça antes de levá-la ao forno médio (160-170ºC) por três horas,
borrifando de tempos a tempos com vinagre e regando a cabeça com o molho que se vai formando.
Depois de assada,

abra a cabeça ao meio com uma faca afiada
e sirva metade por pessoa.


Feijoada de 7 Mitos

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                  Se por um lado os grandes mitos, com tudo o que transportam de mágico, poético e improvável são condimentos preciosos para o nosso imaginário e estrutura, pense-se por exemplo na “bênção” de uma massa de pão, poucas coisas serão mais deprimentes que os pequenos “tesouros” culinários míticos que, se desculpáveis enquanto segredados da Tia Maria para a Tia Alzira, se tornam verdadeiramente execráveis quando propalados por gente que pelos lugares proeminentes que ocupa e pela responsabilidade que essa visibilidade acarreta, deveria acautelar os fundamentos e veracidade do que vão debitando. Falo, evidentemente, dessa troupe de alguns chefs da moda que, não tendo grandes capacidades para além da sua arte, a chamada cultura geral, bem tão escasso por aí, não se coíbem de propalar as maiores asneiras, que na sua boca valem por lei e que na realidade passam a constituir uns verdadeiros “tesourinhos deprimentes”, tema ditado pelo Amândiopara esta 133ª Trilogia, comigo e com a Ana.
Quem nunca ouviu dizer que o feijão tem de cozer sem sal? (1)
Quem nunca ouviu que os veios do louro são tóxicos? (2)
Quem nunca asseverou que polvo cozido com sal, fica duro? (3)
E os pés da salsa venenosos, que até as abortadeiras usavam? (4)
E os grelos ou veios dos dentes de alho que agora se devem tirar a todo o custo pelo mal que fazem? (5)
E os veios brancos dos pimentos, responsáveis pela sua indegestibilidade? (6)
E a máxima pretensa-gourmet de que se deve utilizar bom vinho para cozinhar? (7)
Esta excelente feijoada de polvo, a que chamei de “7 Mitos” e que garanto foi perfeitamente digerida sem qualquer ajuda e que soube pela vida, foi feita usando de propósito todos eles.

Ingredientes:

Polvo fresco
Azeite refinado
Cebola
Cenoura
Alhos com grelo
Louro com veios
Pimento com “branco”
Salsa com os pés
Vinho tinto corrente
Feijão catarino cozido com sal
Sal e pimenta
Malagueta
Couve repolho
Arroz carolino cozido

Preparação:

Congele e descongele o polvo, ou, se preferir, bata-o sem piedade com o martelo de bifes. 
Demolhe bem feijão Catarino e coza-o em água e sal. Reserve.
Num fundo de azeite refinado, estale em lume forte a cebola picada, juntamente com cenoura, pimento, alhos, louro, pimenta e malagueta. Quando a cebola amolecer, junte então o polvo em troços,
 envolva, cubra de vinho tinto, junte sal e deixe cozer meia hora.

Junte então couve repolho ou lombardo e deixe continuar a ferver até o polvo estar tenro e o líquido quase desaparecer. Junte por fim o feijão cozido, deixe ferver por uns poucos minutos e sirva a feijoada de polvo e mitos acompanhada de arroz cozido, se gostar.

Mitos:

(1)   – O feijão, como todas as leguminosas, não só coze com sal, como até coze melhor com sal que sem ele.
(2) -  Os veios das folhas de louro têm a mesma composição do resto da folha, como se percebe através do louro em pó, que é a folha inteira moída.
(3)   - O polvo deve ser cozido com sal, o que facilita a cozedura, como é feito na Galiza, os maiores técnicos na preparação de polvos.
(4) - Os pés de salsa têm a mesma composição da folha, apenas mais intenso no sabor e devem por isso ser sempre usados.
(5)   - O grelo que existe no interior do bolbo (dente) de alho é a planta do novo alho e concentra a alicina, pelo que é excelente para todas as preparações em que o alho é cozinhado. Deve ser retirado, por ser muito activo o sabor, nos casos em que o alho fica cru (aioli, p. ex.).
(6) - A única diferença entre a parte branca esponjosa interior de um pimento e a verde é… estética!
(7)   - O que distingue um bom vinho de um vinho corrente são pequenas e frágeis características que se perdem por completo na fervura. A pretensão da necessidade de usar um vinho bom para cozinhar é absurda e apenas se enquadra no conjunto de mitos gourmet com que se “enfeita” esta cozinha para mantê-la de elite. Claro que não estou a dizer que todos os vinhos são iguais; um morangueiro deixa a sua marca a flores, um moscatel o inconfundível traço “moscato”. A diferença que não se nota no resultado do prato é entre um moscatel vulgar e um moscatel excelente.

Alem dos sete mitos apontados e quebrados nesta feijoada de polvo, fez-se ainda uso de mais um: o que afirma a necessidade de cozinhar com azeite virgem-extra, perfeita tolice só possível em quem ignora que a temperatura destrói imediatamente tudo aquilo que caracteriza o azeite virgem, ou seja, os subtis sabores que derivam do facto de ser extraído a frio. O azeite virgem destina-se a temperar no prato, sendo o azeite refinado ideal para cozinhar a quente e desprovido de acidez. 

Secar Favas ( fava rica)

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               Seja porque as cultivámos, seja porque alguém nos ofereceu, seja ainda porque nesta altura do ano há sempre demasiadas favas, frescas e baratas, para muitos de nós põe-se muitas vezes o problema de como fazer perdurar estas semanas fugazes em que podemos desfrutar dos prazeres que as favas nos proporcionam uma vez por ano, antes de terem a “unha” preta e a casca dura e passarem a ser algo apenas disponível na  pobre versão congelada.
Claro que podemos sempre congelar as favas excedentes, se tivermos espaço para tal e gostarmos de favas congeladas, mas podemos aproveitar para fazermos o nosso próprio stock anual de fava seca, ou fava rica, essencial para a confecção da fava frita, da fava rica propriamente dita e de deliciosas sopas e acompanhamentos requintados.
As favas secas são de fácil arrumação e conservação, e secar favas é uma tarefa simples e gratuita, pois até a energia envolvida é a do Sol.

Ingredientes:

Favas

Preparação:

O processo de secagem das favas provoca um espessamento considerável da pele que encerra os deliciosos e cremosos cotilédones, tornando-a coreácea
  pelo que, normalmente, opta-se pela sua remoção antes de usá-las. Por essa razão, ao secarmos favas podemos escolher fazê-lo com a fava com pele, adiando a sua remoção para o momento futuro em que formos cozinhá-las ou, com mais trabalho já e menos depois, tirar já a película

e secar apenas o interior.
No primeiro caso, há apenas que espalhar as favas inteiras num tabuleiro
e pô-las ao sol durante quatro a cinco dias,
após o que estão prontas a guardar.
No segundo, há que fazer-lhes um golpe e retirar a película antes de as secar, o que ocorre em três a quatro dias,
consoante a intensidade do sol e do vento. 

Agar de Morango e Maçã

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          Agar-agaré o nome malaio para diversas algas ricas em agarose e que são geralmente conhecidas por ágar-ágar. Fico pelo nome malaio que resulta mais fácil de articular.
O agar-agaré uma alga com muitas aplicações e que se usa em culinária pelo poder extraordinário que possui de gelificar líquidos, de facto muito superior ao da própria gelatina. Esta capacidade e o facto de contribuir para diminuir a absorção de gorduras, fazem do agar-agar o meio ideal para transformar frutas numa sobremesa atraente, saborosa e com o valor calórico que lhe quisermos dar.
A receita que aqui deixo é sem açúcar, mas pode ser adoçada à medida da cada gosto, com açúcar, mascavado, adoçante, mel, etc. e é ideal para o aproveitamento daquela fruta que apresenta uma parte tocada mas que, retirada, deixa a peça boa embora pouco apresentável.

Ingredientes:

350g de morangos
125g de maçã ralada
5g de ágar-ágar
1,5 dl de água
2 iogurtes naturais

Preparação:

Esmague os morangos.
Junte a maçã ralada no ralador mais grosso
e leve ao lume. Quando a maçã estiver cozida a seu gosto, adicione então os iogurtes e o ágar-ágar, previamente dissolvido na água a ferver.
Se usar ágar-ágar em pó, essa dissolução é muito rápida; se usar ágar-ágar em rama (flocos) pode ajudar passando com varinha durante o cozimento.
Mexa bem o agar com a fruta, vaze para formas individuais ou para uma forma de tamanho adequado (usei, na falta, uma tigela e um copo)
e leve ao frigorífico até gelificar,
o que é muito rápido e até sucede, ao contrário da gelatina, à temperatura ambiente.

Tortellini de Fígado com Molho de Ervilhas

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                Este é um espaço em que mostro a comida que realmente faço na minha cozinha, não “invento” nem copio pratos curiosos, vistosos ou na moda, para efeitos de blog, nem escondo os pequenos passos singelos de que é feita uma cozinha no dia-a-dia. O Outras Comidas é assim!
As linhas acima serviram para justificar algum embaraço para satisfazer o tema “ervilhas” desta 134ª Trilogia com a Ana e o Amândio: nos mais de seis centenas de pratos que compõem o Outras Comidas e que são o espelho da minha cozinha, há um de ervilhas, as incontornáveis Ervilhas com Ovos, e mais nada. O facto é que eu até gosto de ervilhas mas uso-as sempre de forma lateral e secundária, alegrando um arroz de cenoura, ajudando numa sopa, salteadas em manteiga como acompanhamento e em molhos.
É este o caso em que as ervilhas vão aqui ficar, envolvidas num bechamel que irá aveludar os tortellini que serão os reis do dia, deixando mais uma vez as pobres ervilhas lá para trás.

Ingredientes:

Fígados de ave, em vinha de alhos
Gordura para fritar o fígado
120g de farinha
1 ovo grande
1 c.sobremesa de óleo
1 pitada de sal
Bechamel de ervilhas

Preparação:

Marine fígados de frango ou de galinha numa vinha de alhos forte
 e frite-os em pouca gordura até ficarem com sabor bem intenso e apurado.
Esmague grosseiramente estas iscas e seu molho, com um garfo.
Misture os ingredientes da massa fresca ( farinha, ovo, sal e óleo) 
e amasse até obter uma massa dura mas homogénea; as quantidades são apenas indicativas e devem ser ajustadas ao resultado esperado e não o contrário.
 Deixe descansar por uma hora, fechada num recipiente para não secar por fora.
Estenda pedaços desta massa com o rolo (ou máquina de estender massa, se tiver) de modo a obter uma folha fina e maleável.
Corte círculos nesta folha com cerca de 6 cm de diâmetro.
Humedeça cada círculo de massa com o auxílio de um pincel, mas deixando apenas húmido, não molhado, coloque um pedaço de fígado no meio, 
dobre, fechando o recheio e calque a massa entre os dedos, para unir bem. 
Dobre a badana que ficou sobre a parte que contém o fígado 
e una as pontas, pressionando, 
de modo a ficar com o aspecto tradicional dos tortellini.
Coza os tortellini em água com sal até ficarem ao seu gosto, o que poderá levar mais alguns minutos que a massa seca vulgar, escorra e sirva com um molho de ervilhas e nata, que se faz derretendo meia noz de manteiga, temperada com pimenta e noz moscada e um alho esmagado a que se adiciona a farinha, que se deixa cozer na manteiga sem a deixar escurecer (roux claro). Junte leite mexendo sempre de modo  a fazer um creme com a consistência de um bechamel. Duplique o volume do creme adicionando natas (de soja ou de leite), sal e, por fim, ervilhas das pequenas, de lata.
 Deixe ferver em lume baixo e verta sobre os tortellini.

Hambúrguer de Grão e Legumes

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                 Não é um hambúrguer, não é hummus e não é falafel, tendo um pouco de cada um e de um bom e lusitano puré de grão, estes "hamburguers" reintroduzem os temas cada vez mais importantes, da cozinha saudável sem perder a capacidade de atrair pelo sabor.
Feitos no forno, ao invés da tradicional fritura que os deixaria forçosamente mais gordos, estes hambúrgueres vegetarianos mantêm uma crosta estaladiça apetecível e constituem uma refeição equilibrada e completa, bem apropriada à época, uma entrada original ou até como um snack frio para qualquer hora, sem preocupações calóricas.

Ingredientes:

80g de Cebola picada
125g de cenoura ralada
125g de courgetteralada
3 dentes de alho, picados
Sal, pimenta e noz moscada
1 c. sopa de azeite
200g de grão cozido
30g de flocos de aveia (ou pão ralado)
Pão ralado, para panar

Preparação:

Coza grão e passe-o pela máquina.
Salteie no azeite e em lume forte a cebola, a courgette, cenoura, alhos e temperos,
até amolecerem e deixarem de perder líquidos.
Junte o grão e os flocos de aveia ou o pão ralado,
que se destina a absorver algum excesso de líquidos dos legumes e dar consistência ao hambúrguer.
Deixe em repouso por uma hora, no caso de ter usado os flocos, que precisam de tempo para hidratarem e molde a massa com a forma de hambúrguer.

Passe por pão ralado, pressionado para que adira bem e leve a forno médio
por cerca de vinte minutos ou até estarem louros a seu gosto.
Sirva quentes, com salada, ou sozinhos, frios, em ambos os casos com um dip de iogurte,
feito batendo iogurte natural com uma colher de sopa de azeite, sal, pimenta, umas gotas de limão ou vinagre e mais alguma especiaria a seu gosto, eu usei noz moscada.

Crepes de Galinha e Beringela, no forno

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                  Todos conhecemos aqueles crepes fritos e escaldantes que, por norma, fazem de entrada a uma refeição nos restaurantes chineses, recheados de legumes e, às vezes, com alguma carne de frango ou porco, picadas.
Embora se possa fazer em casa, a massa exterior destes crepes é de feitura laboriosa e resultados incertos, além de nunca se conseguir com os recursos caseiros que fique com a perfeição estaladiça dos preparados industrialmente. Juntamente com o papel de arroz, a folha de obreia e a massa filo, constituem as massas que eu prefiro adquirir já feitas.
Tendo, por razões de saúde e de idade, decidido começar a tomar alguns cuidados alimentares, fui hoje experimentar o que daria esta massa que foi feita para ser frita se fosse forneada. Com uma sobra de galinha assada e uma beringela pequenota, fez-se o ensaio e aprovou-se plenamente.
Esta massa mantém as características estaladiças que apresenta ao ser frita, mesmo feita no forno, com as vantagens inerentes para a saúde.

Ingredientes:

Galinha assada (sobra)
½ Cebola
1 Dente de alho
1 Beringela
1 colher de sobremesa de azeite
Sal e pimenta
4 Folhas de crepe chinês, de trigo
Molho Teryaki

Preparação:

Descasque a beringela e parta-a em palitos finos, como se fosse batata para fritar. Ponha de molho em água por uma hora.
Refogue a cebola e o dente de alho, ambos picados, no azeite e junte-lhes então a beringela bem escorrida. Tempere com sal e pimenta e salteie em lume forte, apenas até a beringela se tornar translúcida e começar  a amolecer. Junte no fim a galinha picada à faca e envolva. Reserve.
Descongele, fechada, uma embalagem de folhas de crepe e separe em grupos de folhas em número adequado à sua casa e ao uso que espera fazer delas.
A embalagem tem 40 unidades e deve embrulhar os sub-grupos que fizer em película aderente e voltar a congelar assim separadas, mas bem embrulhadas pois, como em todas as massas muito finas, deve evitar-se em absoluto a secagem das folhas, que é muito rápida.
Separe devagar e com cuidado uma folha, e distribua o recheio,
dobre em envelope,
enrole e,
antes de acabar o enrolamento, pincele com água a última porção de massa,
de modo a que adira e o crepe fique fechado.
Leve a forno médio até estarem louros e estaladiços, o que é rápido.
No meu caso, que estava a experimentar, usei forno quente demais (200ºC) e o resultado foi as pontas terem ficado tostadas demasiado depressa. Penso que 170ºC seja a temperatura correcta para fazer estes crepes em cerca de dez minutos.
Sirva com molho Teryaki, molho de soja, agri-doce, picante ou outro a seu  gosto.


Couscous “Veggie”

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                   Ser vegané uma opção de vida, quase uma religião, e ser vegetariano uma opção alimentar, ambas respeitáveis embora eu não partilhe qualquer delas.
Claro que o facto de não ser vegetariano e muito menos vegan, não quer dizer que não aprecie a leveza, a simplicidade, tantas vezes a frescura dos alimentos do reino vegetal e os pratos deliciosos, equilibrados e completos que se conseguem sem o auxílio da carne ou do peixe.
Para esta 135ª Trilogia em que eu, a Anae o Amândio vamos andar à volta do  tema “vegetariano”, decidi   fazer um prato de couscous e vegetais, quente, que o tempo já está bom mas ainda sem rigores de calor que faça apetecer mais frescura no prato.
Com a simplicidade que caracteriza os pratos de couscous, chamo a atenção para a introdução de uma novidade na técnica de cozer os couscous que permite obter grãos totalmente soltos após a cozedura, o que é geralmente impossível sem o recurso a uma cuscuzeira para cozer a vapor.

Ingredientes:

1 chávena de Couscous
1 c.sopa de óleo
1 chávena de água
1 c.sopa de azeite
Cenoura
Cebola
Alho
Berinjela
Pimento
Ananás
Sal e pimenta

Preparação:

Um couscous perfeito deve ser, depois de cozido, solto como areia seca. Para alcançar este objectivo, utiliza-se no Magreb um dispositivo de cozimento a vapor a que chamo cuscuzeira, à falta de melhor nome.
Se tiver uma panela de cozer a vapor em que a perfuração do fundo do “andar” superior consiga reter couscous seco, utilize-a, revolvendo o couscousà medida em que for cozendo. Se não tiver esta panela, terá de fazê-lo pelo método de mergulhá-lo em água quente e é esse método, o mais usual entre nós, que iremos aperfeiçoar até conseguirmos um couscous de qualidade magrebina, solto como areia.
Para isso, recorrendo a uma técnica muito comum para a obtenção de arroz solto, vamos olear o couscous adicionando uma colher de sopa de óleo a cada chávena de couscous seco e trabalhá-lo com os dedos até toda a sêmola estar oleada e o óleo ter sido absorvido pelo couscous, o que acontece em poucos minutos. Deite este couscous oleado, em chuva, sobre o seu volume de água fervente temperada com sal, tape e aguarde quinze minutos. 
Solte-o com um garfo e reserve.
Salteie num pouco de azeite, a cebola, cenoura, alho e pimento. Tempere de sal e pimenta preta.
Junte depois a berinjela e o ananás 
e deixe cozinhar apenas o suficiente para que a beringela fique no ponto de cozedura a seu gosto.
Envolva os couscous com os vegetais e sirva.
   

Creme de Favas, by me

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                  Quando as favas chegam aos seus últimos dias da estação, ganham uma pele  coriácea e a característica “unha” negra,
tornando-se pouco adequadas a ser consumidas inteiras, como quando em novas. Por outro lado, este avanço na idade que tira à fava o fulgor da juventude, dá-lhe por dentro um encanto insuspeitado, ao torná-la untuosa e farinhenta, riquíssima em sabor e por isso especialmente indicada para a confecção de uma das mais ricas sopas que uma leguminosa pode proporcionar: o creme de favas.
Apesar de haver muitas maneiras de fazer um puré de favas, gosto de manter nesta sopa a simplicidade e profundidade do sabor da fava, pelo que optei pela confecção minimal, quase pobre, mas de resultado magnífico.

Ingredientes:

Favas
Courgette
Cebola
Alhos
Coentros
Sal e pimenta
Azeite
Morcela de favas ou chouriço de sangue (facultativo)

Preparação:

Faça um golpe ao longo de cada fava
e retire os cotilédones verdes que estão no seu interior.
Num fundo com pouco azeite, estale por momentos as favas e metade do seu peso de courgette e outro tanto de cebola, com um ou dois dentes de alho, sal e pimenta.
Cubra de água e deixe cozer. Junte então um ramo de coentros frescos,
deixe apenas que amoleça e passe tudo com a varinha até obter um creme liso.

Sirva salpicado por coentro picado e, se quiser, com umas rodelas de chouriços alusivos à tradição das favas.

Favas Velhas com Ovos Escalfados

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             Chamei-lhes “favas velhas” mas este é um prato que se pode fazer também com favas muito jovens inteiras ou com fava rica ou congelada, estas últmas sem pele, resultando sempre num prato que é um acalento para corpo e alma. De todos os tipos de fava que mencionei, serão talvez estas favas “velhas”, as últimas a aparecerem já quase o Verão à porta, as vagens  cheias de mazelas e as favas com a sua “unha” bem negra, as minhas preferidas para nelas escalfar uns ovos.

Ingredientes:

Favas frescas, de fim de estação
Chouriço de carne
Cebola
Alhos
Louro
Polpa de tomate
Sal e pimenta preta
Azeite
Coentros frescos
Ovos

Preparação:

Faça um golpe ao longo de cada fava e retire os cotilédones verdes que estão no seu interior.
Refogue num fundo de azeite, cebola e alhos picados, louro e um pouco de polpa de tomate, temperado com sal e pimenta preta.
Junte então algumas rodelas de bom chouriço de carne de fumeiro, as favas sem pele, os coentros,
cubra mal com água e deixe cozer por cerca de dez minutos. Abra clareiras nas favas com a ajuda de uns aros
e escalfe nessas clareiras os ovos, que deixará cozer até estarem passados a seu gosto.


Fruta Frita com Mel

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               Quis o Amândio que nos dedicássemos hoje ao tema “sobremesa rápida” para esta que já é a 136ª Trilogia com ele, a Anae eu.
Em relação a sobremesas não sou grande inovador, sendo que a esmagadora maioria das minhas refeições acabam por fruta fresca que, tendo as mais das vezes como preparação o descascar ou simplesmente lavar, será sempre a mais rápida das sobremesas; mas trilogia oblige e claro que eu não ia pôr aqui os passos de descascar uma laranja ou trincar umas cerejas.
Mantendo no entanto o tema fruta, deixo então uma preparação que funciona na perfeição quando se trata de fazer uma sobremesa e em casa a fruteira está pobre,
uma peça disto, duas peças daquilo que ninguém quis e foi ficando, ali uma maçã que já tem uma rodela castanha…

Ingredientes:

2 maçãs
2 laranjas
1 fatia de ananás
1 banana
1 pedaço de gengibre
1 colher de sobremesa de erva-doce em grão
2 colheres de sopa de azeite
2 colheres de sopa de mel

Preparação:

Esprema as laranjas e reserve o sumo e casca.
Descasque os restantes frutos e parta-os em pedaços, o gengibre em fatias muito finas. Leve o azeite ao lume e salteie os frutos e a erva-doce durante alguns minutos, 
excepto a banana que só é adicionada no fim, para que se não desfaça.
Envolva por breves segundos, 
distribua por taças, regue com o sumo de laranja previamente misturado com o mel e leve ao frigorífico a arrefecer. Termine salpicando com vidrado da casca de laranja.


Kefta Mkaouara (Almôndegas com ovos, Marrocos)

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               A carne picada, modo expedito de consumir toda a carne menos tenra, de carneiro ou de vaca, é uma instituição no Magreb, seja em espetadas, em almôndegas ou em pastéis
De entre a infinidade de tajines com que nos deparamos em Marrocos, muitas são as que levam as pequenas almôndegas de carne de borrego picada e temperada com a mestria daqueles cozinheiros ímpares, e uma das mais comuns será certamente esta deliciosa Kefta Mkaouara, que numa ou noutra ocasião acaba quase sempre por ser um dos pratos obrigatórios numa visita a Marrocos.
Fácil de executar, numa tajine se a tiver, mas também numa caçarola com tampa, é uma experiência inesquecível, uma viagem para outros sabores que assim ficam aqui tão perto.

Ingredientes (2 pessoas):

150g de vitela picada
150g de borrego picado
Coentros frescos
Sal e pimenta preta q.b.
1 c.chá de gengibre em pó
2 + 1 c.chá de cominhos em pó
1 c.chá de Ras-el-hanout
Azeite q.b.
2 dentes de alho picados
1 c.chá de pimentão doce
Malagueta a gosto
1 cebola picada
5-6 tomates maduros (ou, fora de época, tomate em conserva)
4 ovos*
Pão ou couscous

Preparação:

Misture bem as carnes e tempere-as com sal, pimenta, gengibre, metade dos cominhos, coentros frescos picados e o Ras-el-hanout ou, na sua falta, uma mistura de açafrão das Índias, canela, cravinho, coentro em pó e noz-moscada, em partes iguais.
Misture bem e deixe em repouso durante, no mínimo, uma hora.
Modele almôndegas pequenas e sele-as até ganharem cor exterior, em azeite ou óleo e lume forte.
Retire a carne selada e reserve.
Na gordura em que selou as almôndegas, frite então a cebola picada, sal e pimenta, a outra metade dos cominhos, malagueta moída a gosto e o tomate maduro se for Verão, em conserva nas restantes estações.
Quando o molho estiver formado, introduza então as almôndegas,
tape a tajine ou caçarola e deixe cozinhar por cerca de meia hora. Abra dois ovos por pessoa, à superfície, sobre as almôndegas, tape e sirva, polvilhada com coentros frescos, assim que a clara estiver cozida e a gema húmida ou a seu gosto.
Acompanhe com pão ou com couscous, feitos soltos como se disse aqui.
Nota: * Como entrada, aperitivo ou simples petisco, pode fazer esta deliciosa tajine com almôndegas muito pequenas, como avelãs, salpicadas com ovos de codorniz, em vez dos de galinha, o que faz um belo efeito.

Massa Inclusa com Molho de Rúcula

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                O mundo das massas é um manancial infinito de possibilidades e variações aos temas básicos que herdámos dos incontestados mestres italianos desta maravilha de trigo e, se as massas secas são um dos alimentos mais versáteis na cozinha, já a massa fresca presta-se a deixarmos correr a criatividade e a imaginação, pois controlamos todo o processo, desde o início.
Situadas na classe da pastaripiena, ou massas recheadas, como os ravioli ou tortellini, as massas inclusas caracterizam-se por terem o seu recheio, normalmente seco e espalmado, incorporado na própria massa e não numa cavidade. As ervas aromáticas, especiarias ou fatias finíssimas de charcutaria ou conservas de sabor muito forte, são ideais para rechear massa inclusa, que hoje aqui deixo como sugestão para refeições ou entradas nesta 137ª Trilogia com o Amândioe a Ana e onde o tema "massas” é rei.

Ingredientes:

220g de farinha
2 ovos
sal
1 c.sopa de azeite
Hortelã
Tomilho
Pimenta em grão
Coentros
Salsa
Anchova
Estames de açafrão, etc.

1 c.sopa de manteiga
1 c.sobremesa de farinha
1 dente de alho esmagado
Noz moscada
Sal e pimenta
Leite e nata, q.b.
Rúcula selvagem

Preparação:

Misture os ingredientes da massa fresca ( farinha, ovos, sal e azeite) 
e amasse até obter uma massa dura mas homogénea; as quantidades são apenas indicativas e devem ser ajustadas ao resultado esperado e não o contrário. 
Deixe descansar por uma hora, fechada num recipiente para não secar por fora.
Estenda pedaços desta massa com o rolo (ou máquina de estender massa, se tiver) em tiras 
e disponha sobre metade de cada tira aquilo que quiser que fique incluso na massa.
Usei hortelã, coentros, tomilho fresco e pimenta preta esmagada.

Humedeça com um pincel a metade da tira que está livre, dobre-a sobre os recheios,
passe o rolo para colar bem os dois folhetos e corte cada unidade com uma carretilha ou corta-massa.

Coza em água com sal e escorra quando estiver a seu gosto.
Sirva com um molho de rúcula e nata, que se faz derretendo meia noz de manteiga, temperada com pimenta e noz moscada e um alho esmagado a que se adiciona a farinha, que se deixa cozer na manteiga sem a deixar escurecer. Junte leite mexendo sempre de modo  a fazer um creme com a consistência de um bechamel. Duplique o volume do creme adicionando natas de soja (ou de leite, se não se importar com calorias e colesterol), a salsa picada, sal e, por fim, um molho de rúcula cortada grosseiramente.

Courgettes Redondas Recheadas

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                   São courgettes, sabem a courgette, mas têm este aspecto redondinho, compacto e de tamanho “individual” que faz com que pareçam ter sido feitas para serem recheadas.
 Produzidas por holandeses por métodos selectivos (não por manipulação genética) estas courgettes são ainda novidade e não existem em todos os supermercados, mas a sua apetência natural para serem recheadas, as baixíssimas calorias deste fruto (17Cal./100g) e a versatilidade que apresentam para refeições leves, saudáveis e apropriadas à estação quente, conquistaram-me e são agora presença assídua na minha mesa.

Ingredientes (2 pessoas):

2 courgettes redondas
1 hamburguer de vaca
2 dentes de alho
1 cebola média
1 fatia de pimento verde
1 fatia de ananás
sal e pimenta
Açafrão das Índias (cúrcuma)
1 c.sopa de azeite
1 chávena de arroz cozido

Preparação:

Lave as courgettes e corte-lhes uma tampa. 
Com o auxílio de um vazador apropriado ou de uma simples colher de bordo fino, escave o interior da courgette 
de modo a deixar todo em volta uma espessura de cerca de um centímetro. 
Desfaça um hambúrguer de carne magra de vaca num pouco de vinho branco e tempere com sal, pimenta e alho esmagado.
Frite numa colher de sopa de azeite e junte depois o interior que retirou à courgette, o ananás, a cebola e o pimento, tudo picado fino. 
Deixe cozinhar até que perca a maior parte da água e recomece a fritar. Junte então o arroz cozido,
 misture, rectifique sal e recheie as courgettes com esta mistura. 
Leve a forno bem quente (220-240ºC) durante o tempo necessário a que a casca se apresente tostada, o que acontece em 10-15 minutos.
Sirva bem quente.



Papas de Carolo com Grelos e Porco

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                 As polentas, por cá conhecidas por papas de milho, ou de carolo se a farinha usada for da grossa, são pratos admiráveis que, depois de um período áureo em que eram presença assídua e às vezes única nas mesas pobres, passaram por uma época de nojo e depois por uma ressurreição que, infelizmente, não correu bem.
Depois de um “salto” de uma geração inteira em que o milho foi abandonado, quem o recuperou esqueceu os velhos gestos e encarou a farinha de milho como qualquer outro cereal quanto a processos de cozedura, o que foi um erro crasso e de resultados fatais no sabor final de umas papas.
Hoje, a indicação que aparece em qualquer receita de polenta, papas ou xerém indica-as como pratos de confecção rápida, feitos com uma relação entre milho e água em que este abunda e aquela escasseia, e que estão prontos quando a mistura engrossa.
Ora o milho é um cereal com tempos próprios e que não se compadece com pressas; não se trata de não cozer, pois até “coze” em minutos, trata-se de não libertar a plenitude voluptuosa do seu sabor. Quarenta e cinco minutos para a farinha fina, entre uma hora e uma hora e meia para os carolos (farinhas mais grossas, como areia) é o mínimo que o milho exige para se mostrar em toda a sua glória.
Este prato que vos apresento para o tema “polenta” desta 138ª Trilogia com a Anae o Amândio, foi criado a partir de dois pratos da Beira Alta, os “carolos” e as “papas laberças” e é daqueles que demoram a fazer mas nunca mais esquecem.

Ingredientes:

125g de carolo de milho amarelo
1 litro de água
Sal
Toucinho entremeado
Chouriço de carne
Banha de porco
Alhos
Grelos

Preparação:

Coza os grelos em água e sal, escorra e reserve.
Misture o carolo em água fria e leve ao lume, com sal; se estiver a usar farinha de milho fina, comece por desfazer bem a farinha num pouco da água pois forma facilmente grumos.
Deixe ferver, baixe o lume e vá mexendo a intervalos curtos para evitar que queime. À medida que a cozedura avança, a polenta vai engrossando, podendo ser necessária a adição de mais água. Ao fim de cerca de uma hora está cozida.
Entretanto, frite num pouco de banha (ou azeite) o toucinho cortado em fatias finas 
e, depois, o chouriço também partido e os dentes de alho esmagados. 
Frite tudo mais um pouco e deite o pingue formado sobre a polenta. Mexa bem para incorporar.
Junte então os grelos cozidos, envolva bem 
e sirva bem quente, com as carnes em cima.
  

Escalar um Peixe (Rascasso)

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                 Escalar um peixe consiste em abri-lo de forma incompleta pela face ventral, permitindo uma redução da sua altura no momento de grelhar, única situação culinária em que esta operação se justifica, sendo que a outra, a preparação para salga e secagem é de âmbito profissional, como é feito para o bacalhau quando é salgado.
A prática nasceu nos grandes restaurantes de peixe, para conseguir grelhar com a suficiente rapidez que um grelhado de peixe exige, peixes inteiros com pelo menos 0,8kg que, não fora o escalado, teriam de ficar tanto tempo sobre o carvão que a parte exterior ficaria dessecada. Como tantas vezes acontece, as modas pegam pela aparência sem se cuidar de compreender a essência e hoje, não há tasca suburbana que não apresente um carapau, um robalito de duzentos e cinquenta gramas ou até uma dourada de viveiro, orgulhosamente “escalados”, secos e fibrosos como só um peixe pode ficar quando é mal cozinhado. E escalar um peixe de trezentos gramas, que precisa de ficar o mais possível fechado para conservar os seus sucos perante o calor é, objectivamente, cozinhá-lo mal!
Só escalo peixes grandes e foi o caso deste rascasso que acusava na balança uns gramas acima de um quilo, o que o tornava ideal para grelhar para duas pessoas, escalado para que pudesse conservar a firmeza e humidade da sua magnífica carne após um grelhado rápido no carvão, mostrando maravilha que é o rascasso e porque foi o escolhido por Arzak para o seu lendário “pastel de krabarroka”.

Ingredientes:

Rascasso
Sal e pimenta
Azeite refinado
Azeite virgem, extra.

Preparação:

Peça no mercado para aparar e eviscerar o peixe mas para conservar as escamas.
Reserve para si a operação de escalar, única maneira de assegurar que fica feita a contento. Vire o peixe com a face ventral para cima, acabe de abrir a entrecha de modo a ver toda a cavidade e insira uma faca muito afiada no ponto em que acabam as costelas.
Siga a linha da espinha até à cauda, em diversas passagens cada vez mais profundas mas sem atingira pele do dorso. Deve parar quando encontrar a linha de espinha das barbatanas dorsais.
Prolongue então o golpe na direcção da cabeça, cortando uma a uma as espinhas da barriga.
Abra por fim a cabeça em duas partes, tempere com sal e pimenta moída na altura, passe um fio de azeite refinado pelos dois lados do peixe, pele e carne e deixe no frio por uma hora.
Faça um lume de carvão bem aceso e deite nele o peixe aberto com a pele para baixo.
Ao fim de cerca de dez minutos (depende de muitos factores) vire então a carne para baixo e deixe mais cinco minutos.
Sirva logo com o acompanhamento que quiser, com um fio de azeite virgem extra.
 

Ginjinha

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              Ginjinha é o nome que damos a um licor muito popular e de tradição assente entre nós, sendo que além das tascas lisboetas especializadas na sua venda a cálice (não é bem cálice, é mais um copito, às vezes de chocolate, moda recente…) com ou sem “elas”, algumas terras têm também as suas ginjinhas afamadas, como Óbidos ou Alcobaça. Mas se essas ginjinhas industriais podem ser um bom motivo para passar um bom tempo de brincadeira com amigos, para quem goste a sério do prazer de um licor de ginja, não há mesmo como a ginjinha feita em casa, sem pressas, que nisto de bebidas não há como o tempo para fazer o grande trabalho.
A ginja é um fruto de forma aparentada com a cereja e que cresce num arbusto quase bravio, sendo por isso muito sujeita às disposições da natureza e à voracidade de certos pássaros que as devoram, havendo por vezes anos em que mal aparece à venda e então caríssima, pela raridade. Este ano, no entanto, parece ter sido um ano excepcional para a ginja, que tem aparecido abundante pelos mercados e é por isso uma excelente oportunidade para fazer a sua própria ginjinha. Não se arrependerá.
Faça bem mais do que aquela que pensa consumir; a ginjinha continua a melhorar ano após ano e hoje, guardo, além de muitas que fiz depois, ao longo dos anos, uma ginjinha que a minha mãe fez em 1964, tinha eu nove anos, que está absolutamente deslumbrante. É dela a receita que sempre segui e que hoje aqui deixo. Uma última nota: as ginjas têm uma época curta e definida, pelo que terá, no máximo, mais uma semana se quiser tentar a aventura.

Ingredientes (para 1 litro de ginjinha):

400g de ginjas
250g de açúcar
2 paus de canela (4g)
Álcool a 60º (ou a aguardente mais forte que encontrar) q.b.p. 1 litro

Preparação:

Existem vários tipos de ginja, sendo que uma chamada “de folha”, por ter uma folhinha agarrada ao pé é das que faz o licor mais escuro. No entanto todas as outras são idênticas quanto ao sabor final, embora o licor fique mais claro.
Corte o pé junto ao fruto,
rejeitando aqueles que estejam já separados do pé ou com qualquer mazela, pese as ginjas e introduza-as numa garrafa de litro (usei dessas que se compram com polpa de tomate).
Com o auxílio de um funil largo e bem seco, faça então escorrer para a garrafa o açúcar e os paus de canela e, por fim, o álcool.
Em relação ao álcool levantam-se normalmente algumas questões: se bem que as ginjinhas feitas com aguardentes bagaceiras fiquem excelentes de sabor, o certo é que a sua conservação e envelhecimento ficam algo comprometidos pois é quase impossível encontrar uma aguardente com mais de 40º, sendo até ilegal (embora eu pense que existe uma aguardente de cana na Madeira, a “Branquinha”, que tem, ou teve, uma apresentação a 60º, usada na poncha). O ideal seria até usar aguardente de vinho, não de bagaço, mas isso é mesmo inacessível pelo que é melhor esquecer. Eu uso o álcool (de qualidade alimentar) que se vende na farmácia em frascos de 250ml muito parecidos com os de álcool sanitário, excepto no preço, que é vergonhosamente alto, mas é o que temos. Este álcool é a 96º e pode baixá-lo para os 60º, juntando-lhe 45% do seu volume, em água. Um frasco dá para um litro de ginja.
Ao pôr o álcool, o açúcar é arrastado para o fundo e fica com este aspecto.
Deverá ir virando a garrafa durante dois ou três dias, sendo que à medida que o açúcar se vai dissolvendo e, portanto, a densidade do líquido vai aumentando, parte das ginjas começam a migrar para a parte alta da garrafa.
Continue a virar a garrafa quando passar por ela até que, cerca de três dias depois, todo o açúcar está dissolvido e todas as ginjas estão agora junto ao gargalo.
O seu trabalho terminou, dê agora lugar ao trabalho do tempo.
Guarde as garrafas num local escuro e sossegado e deixe até Junho do próximo ano. Durante este ano, o álcool e o açúcar irão fazendo o seu trabalho e as ginjas voltarâo por fim, de novo, ao fundo da garrafa. Estará na altura de fazer a sua ginjinha de 2014 e abrir a que agora fez.
Prometo mostrar-vos o resultado desta, daqui a um ano.


Hungria à mesa

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           Foi uma semana boa, estas férias na Hungria onde pude mergulhar numa cozinha antiga, sedutora e nova para mim, desde a comida popular de bairros e mercados à cozinha assinada, o reino dos goulash, dos foie-gras, das paprikas e do "açafrão" húngaro que, afinal, é a nossa bem conhecida açafroa alentejana ou açaflor nos Açores.
















O Outras Comidas, como é hábito, vai entrar em modo de férias durante os meses de Julho e Agosto, abandonando a periodicidade habitual de publicação, mantendo no entanto a participação nas Trilogias, às Quartas-Feiras, com a Ana e o Amândio.
A todos os visitantes e leitores habituais do Outras Comidas, os meus votos de Boas Férias!

Omeleta de Gemas

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               Antigamente, havia omeletas, omeletas à francesa, tortillas de huevos, tortilhas diversas (a que nós chamávamos pastelões) e cada uma destas designações tinha o seu significado preciso. Hoje, em que a cozinha que conta, por passar na televisão e sair nas revistas, é ''governada'' por chefs que fazem pratos e empratamentos extraordinários mas que, muitos deles, sabem pouco, muito pouco até, sobre tudo o resto que não seja a sua cozinha, de onde vem, como se fez, porque se chama assim aquele prato, e omeleta é tudo o que leve ovos batidos e fritos depois, tendo com isso quase deitado ao esquecimento as omeletas de antigamente, enroladas com paciência e delicadeza infinitas por qualquer cozinheira familiar.
Claro que é muito mais simples deitar uns ovos batidos na frigideira, salpicá-los com um recheio qualquer, dobrar ao meio e vazar para um prato e chamar-lhe omeleta; mais simples, mais rápido e mais atraente para quem segue as instruções afamadas e fica bem contente por ter ali algo que, por maior que seja a inépcia, é sucesso garantido.
Não tenho nada contra qualquer prato de ovos, faço-os todos, mas chamo cada um pelo seu nome e quando digo ''omeleta'', que é hoje o tema para esta 139ª Trilogia com a Ana e o Amândio, quero dizer a antiga omeleta de ovos enrolada de que aqui já deixei algumas das minhas preferidas, a de espargos selvagens, a de talins, a de queijo fresco, a lisboeta de rins e, claro, a de coentros de António Tabucchi. Hoje, em homenagem à omeleta, ela própria, fica aquela que, na sua singeleza, será talvez a mais esquiva e difícil das omeletas: a omeleta de gemas.

Ingredientes (2 pessoas):

6 ovos
Salsa
Sal e pimenta
2 c. sopa de natas
2 c. sopa de água
Gordura a gosto, para a fritura

Preparação:

Abra para uma tigela, um ovo e junte-lhe duas gemas, uma pitada de sal, pimenta recém moída e as natas. Para outra tigela, abra três ovos e junte-lhes as duas claras sobrantes, uma pitada de sal, salsa picada e a água.
Bata o conteúdo de cada tigela com varas ou num processador e, no fim, meça o volume de ovo batido que tem em cada tigela. Verificará que, com esta ou aquela diferença, devidas aos ovos não serem iguais, terá na tigela das ''claras'' um volume triplo do da tigela das ''gemas''. Esta relação será importante na execução da omeleta.
Derreta ou vaze uma pequena quantidade da gordura que escolher (eu usei banha) numa frigideira de fundo espesso e revestimento anti-aderente (ou de cobre estanhado) e deite-lhe uma concha da tigela ''claras''; incline a frigideira de modo a cobrir todo o interior.
Quando a placa estiver quase completamente coalhada, junte-lhe um terço de concha da tigela ''gemas'',
espere uns segundos fora do lume para que a temperatura do ovo já frito não endureça o que acabou de lá pôr e comece a enrolar de modo a que estas gemas, ainda cruas, fiquem embrulhadas pela placa já dura.
Repita a operação até que se esgotem os conteúdos das duas tigelas,
fazendo em permanência a gestão do calor* e da posição da frigideira sobre este.
Sirva logo de modo a poder maravilhar-se com sabor das gemas cremosas que aparecem entre as camadas desta inesquecível omeleta.
 Nota: Esta omeleta é um prato de execução muito difícil e que requer treino, perícia técnica e também uma capacidade que só a prática confere, para gerir com minúcia e a todo o momento a posição e graduação da fonte de calor. Não desanime se a sua omeleta de gemas ficar mais seca que o desejado ou se, pelo contrário, em vez de ter o interior no ponto cremoso, que quase escorre mas na verdade não escorre,
se apresentar líquido e se derramar no prato. Os pequenos passos intermédios que levam a este resultado são na verdade indescritíveis e só pela experiência, pela tentativa e erro se alcança.
Posso no entanto garantir que é algo em que vale a pena investir e que dificilmente poderá encontrar fora de casa. Por mim, demorei cerca de vinte anos e, mesmo assim, valeu a pena.

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